segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

MIneração em São Thomé: "sustentabilidade fraca"

Fiz essas fotos em fevereiro de 2010, São Thomé das Letras, MG.
As explosões têm hora marcada. E pela tarde se escutam os "trovões" das dinamites.
Ao darmos carona,  na estrada de chão que leva a São Thomé, a um  trabalhador da zona rural, ele nos dava seu depoimento, sem fazermos perguntas, ele se sentiu à vontade para desabafar, provavelmente por se identificar com nossa mineirice, se referindo aos turistas como sendo "os outros" ou "eles" (somando a notável  embriaguez carnavalesca do pobre trabalhador). Disse que os turistas zangam com ele, por estar "destruindo a natureza", mas ele foi logo justificando: "eu trabalhava na roça, mas não tem mais terra para roçar por aqui, agora é só a pedreira, e eu tenho uma família" e continuava "temos que esconder as dinamites dos hômi do exército", dando a entender que trata-se de atividade irregular.

Meu receio é de como estará a paisagem das montanhas de São Thomé em 2020, 2030, 2040...

Uma cidadezinha simples e mágica do sul de Minas Gerais,  histórica (Estrada Real), que vive do turismo ecológico (cachoeiras, grutas, serras...) e místico (fenômenos misteriosos e ufológicos rondam a cidade, cogita-se ser devido à força e energia das pedras, havendo inclusive a Ladeira do Amendoim, onde automóveis sobem com o motor desligado, sendo também conhecida como Cidade das Estrelas devido aos 1440 m de altitude e indescritível visual noturno) e tem, como atividade econômica, além da turística, a exploração de pedreiras ao seu entorno.

Não sou contra as atividades de mineradoras, pelo contrário, sei da necessidade que há para nossa vida moderna e de toda utilização da pedra são thomé na construção civil e outros fins. Quero, no mínimo, é acreditar que a atividade é "legal", que se realizam estudos de impacto ambiental, considerando a possibilidade de esgotamento dos recursos, seu monitoramento, controle e  manejo das explosões. Quero acreditar em uma economia ecológica, onde se contabilizam os custos ecológicos e sociais, inclusive na tributação da atividade, havendo um Fundo de certa porcetagem da lucratividade da empresa se revertendo em prol do município e da coletividade, visando realizar projetos socioambientais e a atenuação dos impactos. Quero acreditar que uma minoria privada ao ter acesso a recursos não renováveis (diga-se, esgotáveis) para finalidade lucrativa, utilizando um patrimônio ecológico e paisagístico público, reverte benefícios à coletividade, tendo consciência de que aquele bem não pertence somente à empresa que possui licença para explorar, mas sim trata-se de um bem que é de interesse público, por isso é necessário precaução, controle e atividades compensatórias.  Quero acreditar que há remuneração justa,  trabalho digno e seguro... quero acreditar...

Liana Amin Lima da Silva


Constituição da República Federativa do Brasil/ 1988
Artigo 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.
Parágrafo Primeiro. Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:
IV- Exigir na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade;
 Parágrafo Segundo. Aquele que explorar recursos minerais fica obrigado a recuperar o meio ambiente degradado, de acordo com a solução técnica exigida pelo órgão público competente,  na forma da lei.


2 comentários:

  1. Cara Liana,
    Com os novos conhecimentos da robotica e da cibernetica sabemos atualmente que algumas maquinas alem de demonstrarem vontade propria e comportamento inadequado tem o habito adquirido de alguns humanos de se embebedarem durante os festejos momescos.
    Quero acreditar que foi isso que ocorreu em Sao Tome das Letras...
    Fernando M

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  2. Em vista as tantas distorções ocorridas em comunidades tradicionais, e mal uso da "propriedade" dita privada. Concessões e concessões, mas o fato é que esse assunto não pode por demais ser distorcido como esse comentário sobre um assunto tão sério e importante levantado pela "cara Liana". Senti e testemunhei a mesma coisa relatado por ela sobre uma camuflado exploração de mão de obra local.
    obrigada por este blog, cara Liana.

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